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Autofraude:
O Custo Oculto dos “Bons” Clientes
Desmascarando o Risco com uma Abordagem Unificada
Na incansável batalha contra fraudes, o nosso setor tradicionalmente tem focado fortemente em ataques de terceiros – os criminosos evidentes que tentam roubar identidades ou invadir contas. Embora esse foco seja crucial, ele pode obscurecer uma ameaça muito mais insidiosa e frequentemente subestimada: a autofraude (FPF, first party fraud).
A autofraude ocorre quando um cliente aparentemente legítimo manipula produtos ou serviços em benefício próprio. Diferente dos fraudadores externos, esses indivíduos frequentemente utilizam sua identidade verdadeira, o que os torna extremamente difíceis de detectar pelos métodos tradicionais de detecção de fraudes. A natureza sorrateira da autofraude faz com que ela frequentemente passe despercebida, disfarçada como risco de crédito legítimo ou inadimplência, corroendo silenciosamente a lucratividade de diversas empresas ao redor do mundo.
As Nuances da Autofraude: Muito Além da Inadimplência
A autofraude se manifesta de diversas formas:
Sem Intenção de Pagar: Talvez o tipo mais prejudicial. Nesse caso, o solicitante contrai um empréstimo, abre uma linha de crédito ou adquire um dispositivo com a intenção deliberada de não pagar desde o início. Pode parecer alguém com bom perfil de crédito no papel, mas seu verdadeiro objetivo é dar o calote.
Renda/Emprego Falsificados: Inflar a renda, criar empregos fictícios ou distorcer obrigações financeiras para obter melhores condições ou limites de crédito mais altos.
Esquemas de Falência: Inicialmente, estabelecem um bom histórico de pagamentos e, em seguida, maximizam as linhas de crédito sem intenção de pagar, muitas vezes desaparecendo ou declarando falência.
Fraude Amistosa/Abuso de Estornos: Disputar cobranças legítimas ou fingir não ter recebido produtos/serviços para evitar o pagamento.
Encerramento Antecipado de Conta/Rotatividade: Usar a conta para obter um benefício específico (como ofertas promocionais ou cashback) e encerrá-la imediatamente, deixando o provedor no prejuízo.
O principal desafio com autofraude, especialmente nos casos de “sem intenção de pagar”, é que ela obscurece as linhas entre risco de crédito e fraude propriamente dita. Um cliente pode parecer apenas um “mau pagador”, quando, na verdade, trata-se de um fraudador. Os sistemas tradicionais de prevenção à fraude, muitas vezes isolados das avaliações de risco de crédito, não são projetados para detectar esse tipo de engano deliberado.
Por que a autofraude não é detectada: A linha tênue da intenção
A dificuldade para detectar a autofraude decorre de vários fatores:
Identidade Autêntica: O solicitante usa seu nome verdadeiro, endereço e documentos de identidade autênticos. Isso dificulta que verificações padrão de identidade e vídeo os identifiquem como fraudulentos.
Intenção Difícil de Provar: Provar a intenção de fraudar é complexo. Ao contrário de identidades roubadas, em que a natureza ilícita é clara, a autofraude depende da compreensão de anomalias comportamentais e sinais sutis de alerta que indicam premeditação maliciosa.
Operações Isoladas: As equipes de risco de crédito, fraude e cobrança frequentemente operam de forma independente, usando conjuntos de dados separados e sistemas distintos. Isso impede uma visão holística da jornada do cliente e dificulta a conexão entre os comportamentos iniciais da solicitação e os padrões de inadimplência posteriores.
Lacunas de Dados: Os modelos tradicionais de crédito se concentram principalmente no comportamento de pagamento passado. Muitas vezes, eles não têm insights dinâmicos e em tempo real sobre inconsistências de aplicações, biometria comportamental ou inteligência de dispositivos que poderiam expor a autofraude.
Unificando Riscos para Desmascarar Autofraudes por Meio de Inteligência Comportamental
Combater eficazmente a autofraude– especialmente a variante “sem intenção de pagamento” – requer uma abordagem unificada e baseada em dados que elimine os silos tradicionais entre fraude, risco de crédito e até mesmo cobranças. Isso exige a adição de uma camada crucial de inteligência comportamental às avaliações de risco.
Orquestrando uma Visão de 360 Graus do Requerente: A chave para desmascarar a intenção está em conectar pontos de dados aparentemente díspares. Isso envolve a integração de fontes de dados vastas e diversas – não apenas dados de bureaus de crédito, mas também dados alternativos, inteligência de dispositivos, dados de telecomunicações e histórico interno de solicitações. Ao orquestrar essa rica coleção de informações, é possível construir um perfil abrangente que revela inconsistências sutis e sinais de alerta indicativos de autofraude.
Detecção Precoce de Intenção Fraudulenta por Meio de Sinais Comportamentais: : Isso vai além das verificações tradicionais. Capturar e analisar ativamente sinais comportamentais durante o processo de inscrição e posteriormente pode fornecer insights cruciais. Estes incluem:- Comportamento na Requisição: Como um candidato interage com o formulário de requisição (por exemplo, velocidade de preenchimento, excesso de copiar e colar, alterações rápidas nas informações, padrões de navegação incomuns).
- Impressão Digital do Dispositivo: Identificar padrões suspeitos de uso do dispositivo (por exemplo, vários aplicativos do mesmo dispositivo, mas com identidades diferentes, uso de emuladores ou VPNs).
- Anomalias na Interface do Usuário: Detectar interações incomuns que se desviam do comportamento típico e legítimo do usuário. Esses indicadores comportamentais iniciais, muitas vezes invisíveis para sistemas convencionais, fornecem insights valiosos sobre um possível cenário de “sem intenção de reembolso”, permitindo a intervenção antes que ocorra uma perda.
Modelos Avançados de Aprendizado de Máquina para detecção de intenção mais profunda: Aproveitando esse conjunto de dados enriquecido, incluindo sinais comportamentais, modelos poderosos de aprendizado de máquina podem ser empregados. Esses modelos devem estar continuamente aprendendo e se adaptando para:- Identificar anomalias nos dados da requisição: Identificar padrões incomuns que podem ignorar verificações básicas.
- Correlacionar Sinais Comportamentais com Risco: Entender como padrões comportamentais específicos, quando combinados com outros dados, indicam uma maior propensão à autofraude.
- Prever “Sem Intenção de Pagamento”: Ao analisar uma combinação de dados de solicitação, sinais comportamentais, comportamentos anteriores de pagamento (em um ecossistema de credores, se aplicável) e indicadores externos de fraude, os modelos podem gerar uma pontuação preditiva para fraude baseada em intenção. Isso permite uma intervenção proativa na fase de solicitação.
Tomada de Decisão Adaptativa em Tempo Real: A autofraude exige resposta rápida. Motores de decisão em tempo real permitem que as organizações avaliem instantaneamente o risco diferenciado de cada solicitante. Isso significa que clientes legítimos têm uma integração perfeita, enquanto solicitações suspeitas são sinalizadas para análise posterior ou negadas, prevenindo perdas antes que elas ocorram. A flexibilidade desses sistemas permite a rápida adaptação de estratégias à medida que novos padrões de autofraude surgem.
Conectando os Pontos em Todo o Ciclo de Vida do Cliente: Um ponto forte fundamental reside na unificação de plataformas de risco de crédito, prevenção de fraudes e cobranças. Essa visão holística é fundamental para a autofraude:
- Dados Integrados para Risco de Crédito: Insights de dados coletados durante a detecção de fraudes, incluindo sinais comportamentais, podem alimentar e aprimorar diretamente os modelos de risco de crédito, fornecendo uma avaliação mais precisa da probabilidade real de pagamento.
- Alerta Precoce para Cobranças: Ao identificar a autofraude na fase de solicitação ou no início do ciclo de vida da conta, as empresas podem ajustar proativamente as estratégias de cobrança, priorizar contas ou até mesmo impedir a integração de indivíduos de alto risco desde o início.
- Ciclos de Feedback para Melhoria Contínua: Dados de desempenho dos esforços de risco de crédito e cobrança podem ser realimentados nos modelos de fraude, criando um ciclo de feedback poderoso que refina continuamente os recursos de detecção.
Além da Perda de Dívidas Incobráveis: Prevenindo Fraudes na Fonte
Autofraudes não são simplesmente dívidas incobráveis; são um ato deliberado de engano que exige uma solução dedicada e inteligente. Ao ir além de operações isoladas e adotar uma abordagem de risco unificada que combina de forma inteligente dados tradicionais e comportamentais, utiliza aprendizado de máquina avançado e permite a tomada de decisões em tempo real, as empresas podem desmascarar efetivamente esquemas de “sem intenção de pagamento” e outras formas de autofraude. Isso não apenas atenua perdas financeiras significativas, mas também garante que os recursos sejam focados em clientes verdadeiramente legítimos, promovendo um ecossistema mais seguro e lucrativo para todos.
Jason Abbott é um líder experiente em prevenção de fraudes, com 18 anos de experiência, atualmente atuando como Diretor de Soluções Antifraude na Provenir. Especialista em fraude de aplicações, identidade e autenticação, com sólida experiência na gestão de produtos e estratégias de entrada no mercado de softwares antifraude. Tendo ocupado cargos importantes em grandes bancos do Reino Unido, como JPMorgan Chase & Co., Barclays e HSBC, Jason tem capacidade comprovada de gerar resultados nos setores de varejo, corporativo e de patrimônio, contribuindo ativamente para o setor ao compartilhar insights sobre ameaças de fraude em evolução.
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